terça-feira, 20 de abril de 2010

Coração...





Era uma vez um Coração. Era um coração lindo, vermelho, redondinho, em perfeito estado que batia forte como o jovem coração que era. Um dia, o Coração conheceu algo excepcional. Começou a ter palpitações, batia sem ritmo e liberava tanta energia que até o Estomago sentia. Esse Coração havia se apaixonado, e se apaixonara de uma forma tão pura, tão linda, tão deliciosamente apaixonante que, como todo bom coração, esqueceu de consultar a Cabeça pra saber o que ela achava. Logo ela, tida sempre como tão sábia, e inteligente, estava também se perdendo por causa da paixonite do Coração. Raciocinava pouco, pensava muito do motivo da paixão do Coração e deixou-se envolver demais naquele circo todo que o danado Coração armou.
Para felicidade geral e entusiasta de todos, ele estava sendo correspondido. Pulava, saltitava, batia, batia, batia e quando o telefone ou a campainha tocava, ele já ia logo se alegrando achando que era o ser amado.
E o Coração conheceu sentimentos de felicidade, amor, paixão, tesão, alegria, tudo junto e misturado e ficou até descompassado. Tinha motivos, tinha algo que lhe dava alegria e prazer, tinha outro coração que lhe pertencia e aquilo chegava a ser bom demais pra ser real. Ainda mais pra ele, que se julgava um Coração tão simples. Nobre Coração.
O tempo passou, a euforia acalmou e o Coração estava apaixonado, porém um pouco mais quieto, como sempre acontece com o passar do tempo. O que ele não esperava, era que o motivo de sua alegria não estava mais contente. Na verdade, ele nunca havia sentido da mesma forma, e no seu modo de entender ele estava certo em não querer mais fazer parte da vida do Coração, pois se sentia caluniador e até gostava do Coração, mas nem tanto. Pobre Coração.
Então o Coração foi abandonado, rejeitado. Apenas abandonado porque não era amado como amava, porque havia se entregue totalmente pedindo apenas para ser amado e nem isso conseguira. E o Coração se partiu, rasgou, sangrou, entristeceu e ficou cinza, se sentiu até incompetente. Em sua mágoa e tristeza, não via mais alegria nas coisas, não via mais cores no seu dia, não via o brilho que havia. Chegou a um ponto em que ele nem via mais motivos para continuar batendo. Não havia por que.
E assim ficou por muito tempo, apenas batendo por bater e sem querer se envolver com outro coração. Na verdade ele ficou com muito medo, pois sabia o quanto era bom amar, mas sabia o quanto era ruim não ser amado. Haviam traumas, medos de se decepcionar novamente e isso o barrara em várias oportunidades de corações abertos que encontrava por aí afora. Na verdade, o Coração passou a consultar sua velha amiga Cabeça e juntos, formavam uma espécie de dupla racional contra o sentimento. A cabeça não deixava o coração transpassar determinados limites e o Coração firmemente resistia.
O tempo passou e passou quando as cicatrizes se tornaram mais amenas, ele pode finalmente encontrar outros motivos que lhe dava alegria. Encontrou a força da amizade, que não deixa de ser amor também, e aprendeu a ser feliz sem o louco amor.
Hoje, ele e a Cabeça até pensam novamente em se deixar levar de vez em quando, só pra ver se consegue realmente amar de novo, mas tem medo, tem muito receio com o que pode ser feito dele e prefere, ao menos por ora, se dar aos pouquinhos, com moderação. Coração medroso.

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